20090519

Ainda sobre lixo.


Às margens da Rodovia Geraldo Scavone em São José dos Campos no Vale do Paraíba, vive Alberto Limiro da Silva, 47 anos. Mineiro, ele chegou ao Vale na companhia dos pais com10 anos. Estudou pouco, mas concluiu o ginásio. Teve vários empregos e chegou a ser dono de uma borracharia que ficou aberta por pouco tempo. De maneira simples conta que “bateu cabeça para arrumar a vida". Sem casa para morar, se instalou à margem da rodovia e hoje faz reciclagem de lixo.
“Quando vim pra cá este lugar era cheio de entulho misturado com lixo doméstico, cheirava mal. As pessoas despejavam de tudo aqui. Sem emprego resolvi reciclar. Hoje meu sustento sai daqui”.

O lixo urbano é considerado o maior problema da sociedade moderna. Estudos apontam que cada brasileiro chega a produzir 0,80 kg de resíduos por dia e que apenas 2% de todo o nosso lixo é reciclado. Em São José dos Campos a prefeitura tem dificuldades em acabar com os lixões clandestinos espalhados pela cidade, que na opinião de Alberto depende, além de esforços do poder público, consciência da população de que devemos dar um destino melhor ao lixo.
A reciclagem, organizada por cooperativas ou não, tem crescido no Brasil. Isso contribui para a preservação do meio ambiente e reduz a demanda dos resíduos para os aterros, que coloca em risco os lençóis freáticos, ou para a incineração, que causa a poluição do ar.
Segundo Alberto, a vigilância sanitária esteve várias vezes no local porque grande parte do material que ele recicla fica ao ar livre. “Como não consegui construir ainda um barracão procuro deixar as vasilhas com a base pra cima pra não entrar água e cubro os pneus com lona. Eu entendo a preocupação da vigilância, mas quando eu não estava aqui reciclando, o lugar era pior”, conclui na tentativa de demonstrar a importância do seu trabalho para o local e ainda complementa, “desde que vim para cá, o número de pessoas que jogavam lixo na beira da rodovia, ao menos neste local, diminuiu bastante. Hoje elas sabem do meu trabalho e muitas trazem o lixo pra eu separar e reciclar. Aqui tenho desde teclado de computador e tudo o que você possa imaginar”, conclui Alberto com um punhado de revistas e livros na mão. É interessante observar a forma como ele distribui algumas das peças que podem ser recicladas. Tudo fica muito bem organizado, parece até uma “exposição de artes” dos objetos que ele encontra no lixo. As peças ficam expostas sobre uma bancada improvisada, como se ele, o artista, quisesse expor suas idéias e mostrar um pouco da arte vinda do lixo.
Alberto é um brasileiro que não está no topo da pirâmide social, não é um pesquisador que descobriu novas formas de reciclagem, mas tem consciência que o seu trabalho promove a gestão sustentável do lixo urbano. Quando questionado sobre o futuro, ele demonstra preocupação. Por viver em uma área invadida, conhecida como "Pinheirinho",  Alberto teme sua retirada do local antes de conseguir realizar o sonho de se tornar um "empresário do lixo",como ele mesmo enfatiza. Mesmo preocupado não desanima. “Quem trabalha com reciclagem não pode parar”, conclui com a segurança de quem sabe que o seu trabalho é importante para ele, para a sociedade e para o mundo.

Esta matéria fiz no final de 2007. Betão continuou vivendo no Pinherinho e trabalhando com reciclagem. Todo mundo sabia quem era a Luiza e onde ela estava. E o Betão?